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quarta-feira, 23 de maio de 2007

Fases da Escrita de Alvaro de Campos

É possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.

1ª Fase - Decadentista

Nesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.

“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” “E eu vou buscar o ópio que consola.”

2ª Fase – Futurista/Sensacionista

Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase é visível no elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal), na ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional e na transgressão da moral estabelecida. Quanto ao Sensacionismo, este revela-se na vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro), no sadomasoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal) ena expressão do poeta como cantor lúcido do mundo moderno.

3ª Fase – Intimista/Pessimista

A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença me relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração (ex. “Tabacaria”), a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.

Linhas Temáticas

- O canto do Ópio;

- O desejo dum Além;

- O canto da civilização moderna;

- O desejo de sentir em excesso;

- A espiritualização da matéria e a materialização do espírito;

- O delírio sensorial;

- O sadomasoquismo;

- O pessimismo;

- A inadaptação à realidade;

- A angústia, o tédio, o cansaço;

- A nostalgia da infância;

- A dor de pensar.

Expressividade da linguagem

Nível fónico

a) Poemas muito extensos e poemas curtos;

b) Versos brancos e versos rimados;

c) Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas;

d) Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas.


Nível morfo-sintáctico

a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;

b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.


Nível semântico

a) Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.

Alguns de seus poemas

* Passagem das Horas, 1916
* Apontamento, 1929
* Tabacaria, 1929
* Magnificat, 1933
* Aniversário, 1930
* Lisbon Revisited, 1923
* Poema em Linha Recta
* Ode Triunfal
* Se te Queres

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